As Máquinas de Roubar pensamentos II Menos 1 Manhã chorosa de verão, a passos largos um homem subia a rua, admirou-me a firmeza com a qual caminhava. Eu o observava de uma janela, de onde ele não poderia me ver, sentia a tristeza em seus olhos, embora ele caminhasse de olhos para o chão, como que quisesse enxergar atravez do asfalto. Será que ele não queria ser reconhecido ou despertar suspeitas? Naqueles dias ninguém sabia quem era quem, aquele que um dia era seu amigo no dia seguinte podia ser seu imimigo ou enlouquecer, ou ainda ser algum agente do Sistema, infiltrado. Chamei por um de nós, que veio prontamente para ouvir o que eu tinha a dizer, embora o horário não fosse ideal para conversas importantes algo me dizia que valia a pena seguir aquele homem. O tempo também não colaborava, as ruas molhadas se tornavam lisas demais e perigosas, sem contar que as máquinas de roubar pensamentos andavam por ali, a qualquer hora ou lugar elas poderiam aparecer e, se captassem pensamentos, não deixariam sobrar nenhum. Mesmo assim decidi que iria atrás dele. Não pude deixar de ouvir de um de nós para tomar muito cuidado com as máquinas, ele sabia que toda ajuda seria importante quando chegasse o dia D. Vesti minhas roupas a prova d’água, meus sapatos especiais para chuva e comecei a falar feito louco, ao sair à rua. Corri desesperadamente para alcançar o homem e consegui. Falava sem parar sobre os mais diversos assuntos, sem nenhum nexo, eu parecia com uma daquelas pessoas de pensamentos roubados, olhar vitrificado, a boca já começava a doer de tanto falar, quando o homem olhou para mim e soltou uma tremenda gargalhada, parecia alucinado. Eu quase não acreditava no que via, um despensamentado, como eu e os outros os chamavam, e para piorar tudo , ainda demos de cara com uma das máquinas. O homem gargalhava tresloucadamente e eu falava feito papagaio de pirata para não ser detectado pela máquina, sentados no meio da chuva, eram palavras soltas ao vento e gargalhadas, nenhum pensamento, por menor que fosse passava pelas nossas mentes, pobre homem, pensei. Falavamos de banalidades, esportes, fofocas e outros assuntos que não tinham nada haver, falavamos da vida de todo mundo, tudo para nos livrar da máquina que roubava pensamentos. Sentia-me entorpecido, meu corpo já adormecia de cançaso; minha língua, de já não ter mais o que falar; o homem quase rouco de tanto rir , estávamos a beira da exaustão quando, de repente, a máquina deixou-nos de lado, sumindo na grande avenida como que solicitada em algum outro ponto da cidade. Foi quando, eu e o homem nos reconhecemos, eramos membros da mesma fraternidade, ele usava o anel da pedra azul tal como eu, e para minha alegria e dos outros, ele era um dos cinco cientistas que conseguira escapar da prisão. Regina Oliveira
Enviado por Regina Oliveira em 02/08/2019
Alterado em 02/08/2019 |