Quando eu era criança ouvia muitas histórias. Uma delas, que jamais esqueci, se dera há muito tempo atrás. Era a história de um violeiro que vivia a cantar sentado em cima de um abacateiro. Um dos meus colegas de escola jurava, de pé junto, que era verdade, pois, se não é que, ele morava na casa do abacateiro?!.E ele contava, mais ou menos, assim.
Quando a lua cheia ia alta e o relógio batia as doze badaladas, a música começava. Em tom doce...um lamento triste que varava noite adentro até o raiar do dia, até o dormitar da última estrela e quando a manhã sorria cessava a cantoria. Era o finado Zé Bento que, de amores por Mariazinha, descera à sepultara num sábado de aleluia. Seu Nácio, pai de Maria, proibira o enlaçamento de Mariazinha e Zé Bento. Ela, moça refinada, professora inconformada; Ele, pobre agricultor que cultivava a terra com seu suor e com amor. Ela, moça prometida pro filho do Doutor Zacarias. A cada nota uma lágrima, o moço, aos poucos padecia, por não poder casar com sua amada Maria. E o pai da moça não lhe dava trégua, e sempre o mandava embora, com a sua música e a viola. O tempo foi passando e a saudade foi crescendo, o moço subiu no abacateiro no sábado fatídico do seu passamento. Enquanto os fogos chispavam iluminando o céu, o moço desequilibrando caía – seu corpo ao leu. Na queda quebrou o pescoço e a viola calou. Maria nunca se casou com o filho do Doutor. E ainda reza a lenda que nas noites de lua cheia até o raiar do dia, em cima do abacateiro viola e violeiro fazem uma serenata esperando pela moça, sua Maria amada. Regina Oliveira
Enviado por Regina Oliveira em 14/02/2013
Alterado em 22/06/2024 |